“O trabalho é remédio para muitos males do corpo e da alma – mais para os males da alma. Quem procura uma ocupação útil, seja ela de que natureza for, foge às ciladas que os espíritos obsessores armam para os homens na Terra”.
“Certa vez, alguém me contou que havia sido perseguido e injuriado, por muitos anos, por um ferrenho adversário de suas idéias. Ele vivia sonhando com o dia em que seu opositor, reconhecendo os equívocos cometidos, o procurasse para pedir perdão… Imaginava, finalmente, ter o referido adversário aos seus pés, dando a mão à palmatória. Acalentava essa idéia de triunfo em que justiça lhe seria feita. Pois bem. Quando já estava com os cabelos quase todos brancos, o adversário de muito tempo, também de cabelos brancos, inesperadamente o procura para o tão aguardado entendimento. Confessou-lhe os seus excessos, pediu a ele que o desculpasse na inveja e no ciúme que sempre o haviam motivado no combate acirrado, falou de suas lutas pessoais e conflitos de ordem íntima semelhantes àqueles que exatamente criticara no companheiro…
Conversaram longamente, sem ninguém por perto para testemunhar o diálogo. O amigo injuriado, que tinha tantas respostas na ponta da língua, que havia decorado o que dizer justamente para quando chegasse a hora inevitável daquele confronto, percebeu, segundo ele próprio me confidenciou, que ele também inutilmente perdera tempo…
De repente, sentiu que não havia qualquer razão para o revide… Ambos haviam envelhecido naquela disputa que ninguém saberia identificar como teria começado.
— Chico — disse-me ele —, eu não tive vontade nenhuma de reagir; é verdade que ele se prevalecera de todas as artimanhas para me prejudicar, mas eu também mentalizara aquele momento, o dia em que, face a face comigo, ele se sentisse humilhado… Ele estava tendo a grandeza de me pedir perdão se eu não lhe perdoasse, ele estaria triunfando sobre mim… Eu nunca tido ido a ele; ele é que estava tomando a iniciativa de vir a mim… Eu, que anelava fazer uma publicação no jornal, tornando pública aquela hora de retratação, não tive ânimo de contar isso a quem quer que fosse. Você é a primeira pessoa que está sabendo – ele desencarnou há mais de um mês!… Hoje, sinto por ele uma afeição que não sei explicar. Reconheci que em muita coisa ele tinha razão a meu respeito… Feliz daquele que, na hora de dar o troco, perde a vontade! Esses encontros com os nossos desafetos mais cedo ou mais tarde acontecerão; se não for nesta vida, será na Vida Espiritual. Os que nos perseguem, com razão ou sem razão, nos auxiliam a identificar o nosso próprio lugar… Às vezes, nos é muito mais útil um adversário sincero que um amigo bajulador “.
“A obsessão nem sempre é o mal que imaginamos. Foi através do problema obsessivo de uma de minhas irmãs, que ficou completamente restabelecida, que cheguei ao conhecimento do Espiritismo. De tudo, precisamos saber extrair o melhor. Sempre que enfrentarmos em família este ou aquele problema, necessitamos de saber decifrar a mensagem que a Vida está nos enviando em código…”
“Quem compreende o espírito da Doutrina não se sente animado à discussão… O Espiritismo nos auxilia a identificar tão claramente as nossas necessidades, que, quando tomamos consciência, não encontramos, no sentido de nos melhorarmos um pouco, outra alternativa que não seja a do trabalho aliado ao silêncio”.
“Quem não tem razão no que me critica, não merece resposta; quem tem, está falando a verdade, e contra a verdade ninguém nada pode. É o que Emmanuel tem me ensinado. Por este motivo, a vida inteira procurei ouvir em silêncio as verdades e as mentiras que têm sido ditas a meu respeito”.
“… Não vejo puro “Astralismo” no Espiritismo, de vez que nós todos, os espíritas-cristãos, nos reconhecemos com trabalho incessante, neste mundo mesmo, atentos como devemos estar ao serviço de sustentação de nossos grupos domésticos, qual acontece a quaisquer pessoas que prezem conscientemente as suas obrigações próprias. E as tarefas, muitas vezes, pesadas e sacrificiais, de apoio e manutenção das instituições assistenciais diversas que nos vinculam à melhoria de nossa vida comunitária (…), em face de minha pequenez, reconheço que, para mim, em nossos tempos, devo estar suficientemente maduro para construir a mim mesmo, conforme as instruções de Jesus, ante as perspectivas do Terceiro Milênio, considerando-se que, mesmo na condição de espírito desencarnado, precisarei enfrentar semelhantes perspectivas. No entanto confesso que ainda estou lutando – e muito – a fim de colocar as construções de minha vida íntima ao nível dos conhecimentos que os Benfeitores Espirituais, por imensa bondade, me ofertaram, através dos livros e das mensagens que escrevem por minhas mãos. Sinto-me em luta comigo mesmo, luta esta que defino com estas palavras: Sei o que devo ser e ainda não sou, mas rendo graças a Deus por estar trabalhando embora lentamente, por dentro de mim próprio, para chegar, um dia, a ser o que devo”.
“Creio que, quando cada um de nós estiver cumprindo os deveres que nos competem, perante Deus e diante da vida à frente dos outros e ante a nossa própria consciência, alcançaremos a paz duradoura”.
Trecho do livro “O Evangelho de Chico Xavier” – Editora DIDIER – Carlos A. Baccelli.